domingo, julho 30, 2006

Nojo israelita

Desde o início do conflito israelo-libanês (diria antes israelo-hezbollaico) que tenho vindo a ganhar vontade de escrever sobre o assunto. Ao contrário do que possa parecer, este não é o meu primeiro post sobre a matéria, há meses escrevi este. Profético, apocalíptico ou apenas coincidência, agora, mais que nunca, esse escrito parece-me fazer sentido.

Deixando de lado a parte palestiniana da questão, Israel, como é óbvio, não podia nem devia dormir perante o conhecimento de que o Hezbollah tinha rockets disponíveis a serem despejados nas suas cidades mais fronteiriças, a qualquer momento. Não podia! Seria de um laxismo extremo e irresponsável.
Era também do conhecimento comum que, por muito que os mais recentes Governos libaneses se tenham tentado libertar do controlo sírio, o país enquanto nação independente vive no limiar da insegurança e do medo. Senão atente-se no assassinato do então presidente libanês, Rafik Hariri, em Fevereiro passado (os políticos pró-demoracia ou morrem em atentados ou têm já um vasto currículo deles). A Síria sempre viu o Líbano como um estado adjacente, e sempre teve interesse em o controlar, a nível de influência política e militar. Com o assassínio, a indignação da juventude libanesa foi de tal forma, que os militares sírios acabaram mesmo por abandonar o Líbano de forma humilhante. Ora, com os militares sírios fora do Líbano e com a crescente vontade de "independência" do povo libanês, vai daí... A "representação" Síria é agora feita pelo Hezbollah que sempre se opôs à democracia e ao "ocidentalismo" que Hariri trouxera ao país. Os líderes radicais muçulmanos são ainda endeusados por muitos, e o ódio anti-americano confunde-se agora com o anti-ocidentalismo, a chamada liberdade e democracia. No Líbano, a Síria é agora este grupo terrorista.

"Até aqui tudo bem", não fosse a devastadora resposta de Israel a estas provocações e a insensibilidade com que o fazem. Justificar a morte de um terrorista ou a protecção do seu território, com o assassínio de dezenas, centenas de crianças e a destruição de cidades, de vidas, é combater terrorismo com genocídio.
Israel, tal como os EUA sempre sentiram este dever de protecção dos seus a todo o custo. Sentimento de sobrevivência, do "matar ou morrer". O sentimento de que "as suas" crianças, são diferentes das "outras crianças"; os "seus civis inocentes" são mais valiosos do que os "libaneses inocentes". É literalmente fazer aos outros, aquilo que exigimos que não nos façam a nós.
O que mais me revolta neste assunto, é ver um povo que tenta a todo o custo largar o estigma da guerra (libaneses) e vêem as suas famílias e as suas vidas autenticamente destruídas pelo facto de um grupo terrorista que nada tem a ver com eles, estar neste momento a desafiar Israel. As imagens que se vêem na televisão são as de bairros autenticamente arruinados, o centro de Beirute completamente alvo de ataques indiscriminados. Mata-se toda a gente para que não haja possibilidade de sobreviver nenhum " bandido". (o mesmo tem sido feito aos Palestinianos ao longo destes anos)

O meu mais recente choque deu-se quando na Conferência de Roma se pretendia ratificar um documento a condenar o bombardeamento de instalações referenciadas na ONU, com a morte de 4 observadores das Nações Unidas no território. A proposta foi aprovada por todos os membros, os EUA vetaram por a considerarem precipitada. A proposta deveria ser votada tendo em conta os resultados de um relatório que investigasse o caso. Para os americanos, o relatório seria elaborado por Israel. Vergonha...
Pior veio quando o governo israelita veio a público dizer considerar a cimeira em Roma, como um apoio às ofensivas militares israelitas no sul do Líbano. Consequência? Foram recrutados mais 15.000 militares da reserva do exército israelita.

Não sei o que dizer. Enoja-me a inimputabilidade. Enoja-me tudo o que têm feito, porque ao longo dos anos têm cometido erros de tal forma, que alimentaram a situação até chegar a este ponto. Isto, tal como já tinham feito no Afeganistão. Os EUA criam os seus próprios monstros e quem paga não são os EUA, é o Ocidente, e é o mundo.
(resta dizer que os israelitas rejeitaram, nestes dias, um cessar fogo de alguns dias para abrir corredores para retirar os feridos e fazer chegar ajuda humanitária aos locais atingidos. Dizem que isso permitiria ao Hezbollah a reorganização e o uso de civis como escudo humano. Eu pergunto: é mais importante uma possível reorganização do Hezbollah ou salvar vidas, salvar inocentes?)

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